Justiça decide manter arquivado inquérito sobre desaparecimento de Ana Sophia


Ana Sophia desapareceu em Bananeiras no dia 4 de julho de 2023 Maria das Graças Gomes/Arquivo pessoal A Justiça da Paraíba decidiu retirar o sigilo do processo e manter o arquivamento do inquérito policial que investigou o desaparecimento de Ana Sophia Gomes dos Santos, de 8 anos, registrado em 4 de julho de 2023, no Distrito de Roma, zona rural de Bananeiras. O caso voltou a ser analisado após os pais da menina solicitarem, em maio deste ano, a reabertura da investigação. A decisão foi assinado em 23 de julho deste ano, mas o arquivamento definitivo só ocorreu em 22 de agosto. Segundo a decisão, tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público da Paraíba (MPPB) concluíram que Tiago Fontes Silva da Rocha foi o responsável pelo crime. Ele retirou a própria vida durante as investigações, e exames periciais confirmaram sua identidade, o que levou à extinção da punibilidade. Sem outros suspeitos a serem responsabilizados, o MPPB pediu o arquivamento do caso. A decisão registra que a mãe de Ana Sophia foi comunicada da decisão em outubro de 2024 e não se manifestou dentro do prazo legal de 30 dias, o que consolidou o encerramento da investigação. Em 17 de março de 2025, a Justiça confirmou o arquivamento, entendendo que não havia irregularidade na decisão ministerial. Dois meses depois, em maio, os pais da criança apresentaram uma solicitação para reabertura das investigações, alegaram falhas na condução da investigação e apontaram supostos fatos novos. O Ministério Público defendeu a manutenção do arquivamento, argumentando que os elementos apresentados não se tratavam de provas novas, mas apenas de “reinterpretações de evidências já analisadas e descartadas”. A instituição também solicitou a retirada do sigilo do processo. Na decisão, a Justiça destacou que o pedido dos familiares para reabertura das investigações foi feito quase sete meses após a mãe ter ciência do arquivamento e também considerou que os argumentos apresentados não configuravam provas novas. “Trata-se de teses e conjecturas sobre elementos já exaustivamente analisados no bojo do inquérito, os quais foram motivadamente afastados pela investigação. A irresignação, embora compreensível diante da dor da perda, não tem o condão de reabrir um procedimento já encerrado de acordo com as formalidades legais”, registrou a decisão. MPPB recomendou arquivamento das investigações O promotor Edmilson de Campos Leite Filho, responsável pelo parecer, afirmou ao g1 que os advogados não apresentaram nenhum fato novo e que o arquivamento do inquérito seguiu o trâmite normal. Segundo o promotor, todas as linhas de investigação, incluindo a possibilidade de envolvimento de outras pessoas no crime, foram devidamente exploradas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público ao longo do inquérito. Ele também afirma que todas as evidências reunidas apontam para Tiago Fontes como o autor do crime. Ainda de acordo com ele, ouvir novamente as testemunhas não representa um fato novo, e a alegação de que o corpo da criança não foi encontrado também não justifica a reabertura do caso. Segundo Edmilson de Campos Leite Filho, não é possível desarquivar o inquérito sem uma informação crucial que aponte o envolvimento de outra pessoa como possível autora do crime. "Outras linhas investigativas também foram traçadas, foram efetivamente encaminhadas pela polícia judiciária e pelo Ministério Público no decorrer da investigação, e todos os caminhos, todas as linhas investigatórias, apontaram para o Tiago Fontes como o autor do terrível homicídio que vitimou Ana Sophia", destacou o promotor. Família pediu a reabertura das investigações Os pais da criança, João Simplício e Maria do Socorro, afirmam que não concordaram com o arquivamento do inquérito e cobraram a continuidade das investigações. “Eu peço, em nome do Senhor Jesus, que ele releia esse inquérito. Tenho fé em nosso Senhor Jesus Cristo que eles vão ver, porque tem gente ali, aqueles depoimentos que precisavam ser ouvidos novamente”, afirmou a mãe. Os pais de Ana Sophia, João Simplício e Maria do Socorro Reprodução/TV Cabo Branco Os advogados da família alegaram que fatos importantes deixaram de ser analisados. Eles pedem que a polícia investigue linhas de investigação que não foram seguidas, ouça novamente testemunhas e apure pontos que, segundo eles, ficaram sem esclarecimento na época. A Polícia Civil trata o inquérito como encerrado. As investigações da corporação apontaram que Ana Sophia foi morta em um crime premeditado, com motivação sexual. O inquérito segue sob sigilo. Em nota, a Polícia Civil afirmou que o caso foi devidamente elucidado e que a investigação foi conduzida com rigor técnico, resultando na produção de provas periciais e testemunhais, que tornaram possível a identificação do autor do crime. Ainda segundo a polícia, diversos recursos investigativos e tecnológicos, contando ainda com o apoio da Polícia Federal, contribuíram com elementos periciais relevantes. A Polícia Civil também informou que o relatório final foi acolhido pelo Ministério Público, que determinou o arquivamento do caso, considerando a solidez das provas reunidas. LEIA MAIS: Entenda a cronologia do desaparecimento e morte de Ana Sophia O desaparecimento Bombeiro usa cão farejador nas buscas pelo corpo da menina Ana Sophia, em Bananeiras Pedro Junior/TV Cabo Branco Segundo as investigações, Ana Sophia saiu de casa por volta das 12h e foi até a casa de uma amiga. No entanto, ao chegar lá, a menina não estava em casa, então ela voltou. Por volta das 12h36, uma câmera de segurança filmou Ana Sophia passando na calçada de um mercadinho. Cerca de 150 metros adiante, um vulto foi visto entrando numa casa. Segundo análise da perícia, as medidas batem com a da criança, e o local coincidia com a entrada da casa de Tiago Fontes. Esses foram os últimos registros dela em vida. Polícia confirma que vídeo mostra Ana Sophia entrar na casa de suspeito e não sair mais As investigações Tiago Fontes, suspeito de matar a menina Ana Sophia, em Bananeiras Reprodução O delegado Aldrovilli Grisi informou que a família de Ana Sophia vivia em um imóvel alugado pelo sogro de Tiago, que morava em frente à residência da família da menina. O suspeito frequentava a casa do sogro. “Ele tinha conhecimento da rotina da família de Ana Sophia. E aí vem os detalhes, corroborados em depoimentos, de um olhar, de uma cultura injusta com a mulher”, disse Aldrovilli Grisi. As investigações encontraram no celular de Tiago buscas sobre decomposição de corpo humano, estágios de putrefação e quanto tempo um fio de cabelo perde a capacidade de ser identificado por um DNA. O homem também buscou pelo caso da criança Júlia, da Praia do Sol, que foi encontrada num poço assassinada pelo padrasto. A Polícia Civil concluiu também que o crime foi premeditado, após pesquisas no celular do investigado, que foi encontrado morto em novembro, conforme explicou o delegado Diógenes Fernandes, que também atuou nas investigações. O inquérito apontou ainda que o caso teve motivação sexual e que o suspeito agiu sozinho. "Tiago planejou o crime quatro meses antes. Em março ele já pesquisava como matar asfixiada uma criança de 7 anos, idade de Sophia na época", informou o delegado. No dia 14 de novembro, durante uma entrevista coletiva, o delegado Aldrovilli Grisi afirmou que Tiago Fontes teve um comportamento diferente ao sair para trabalhar no dia do desaparecimento da menina. Colocou o carro na garagem, o que não costumava acontecer. E também lavou o local. O delegado disse ainda que ele saiu para o trabalho por uma rota oposta, na contramão. E no dia seguinte deixou o local antes do horário normal. Durante a investigação e coleta de depoimentos, o delegado Aldrovilli Grisi informou que Tiago Fontes ficou próximo de confirmar que matou Ana Sophia em três momentos. Contudo, recuou em confessar o crime e se colocou no lugar de vítima. “Ele [Tiago] ficou perto de confessar [ter matado Ana Sophia] por três vezes o crime quando foi interrogado. Mas não o fez. Ele chegou a dizer: ‘eu não tenho o corpo’. Ele fez uma postura de vítima, mas só existe uma vítima: Ana Sophia”, explicou o delegado. A morte do suspeito No dia 12 de setembro de 2023, a Polícia Civil divulgou que Tiago Fontes estava desaparecido. Ele foi visto saindo de casa após uma vistoria realizada em sua residência, como parte das investigações. Quase dois meses depois, em novembro, o corpo dele foi encontrado em uma área de mata em Bananeiras. Buscas por Ana Sophia chegaram a ser feitas no local, mas a menina não foi encontrada. O corpo foi localizado sem sinais de hematomas ou perfurações, mas em avançado estado de decomposição, junto de uma garrafa de bebida alcoólica e uma cama feita com capim, numa área de mata fechada, por trabalhadores rurais. Nas palavras técnicas dos investigadores, ele cometeu uma "autoeliminação". Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba