294 injeções e um sonho, ser mãe pela terceira vez: ‘eu sentia no meu coração que seria diferente’


Aline descobriu ter trombofilia, quando estava tentando engravidar pela terceira vez. Doença pode causar aborto em alguns casos. Maria Eduarda ao lado das seringas de Clexane. Foto: Arquivo pessoal. Nas letras das músicas, a palavra "Mãe" é associada quase ao divino. Na canção de Agnaldo Timóteo, "Mãe, palavra mais doce que o mel, talvez um pedaço do céu que Deus transformou em mulher". Aline Tavares, representante comercial de 40 anos e moradora de Caruaru, Agreste de Pernambuco, sempre teve o sonho de ser mãe. Após duas gestações inesperadas quando ela era jovem, descobriu ter Trombofilia, uma doença que em alguns casos pode ocasionar o aborto. Ao todo, ela tomou 294 injeções para conseguir engravidar do terceiro filho. Em 1999, Aline descobria o quê para muitas mulheres é um sonho de vida: ser mãe. Na época, ela era apenas uma adolescente de 16 anos no meio do ensino médio. A primeira gravidez foi inesperada, afinal, ela não tinha planos para assumir esse papel tão jovem. Devido a falta de informação daquele tempo, a gravidez na adolescência era visto como um tabu para sociedade. Em alguns casos, até como um fardo. Felizmente, para Aline aquilo foi o começo da realização de um sonho. Uberdan Tavares, o primogênito, nasceu no primeiro dia de janeiro de 2000. "Foi ali onde eu vi que era meu melhor papel, ser mãe. Fui mãezona desde o primeiro dia!", disse. Aline Tavares e Uberdan Tavares Foto: Arquivo pessoal Após a primeira gravidez, Aline começou a se cuidar mais e utilizar anticoncepcionais para evitar outra gestação inesperada enquanto era menor de idade. Dois anos depois, após os 18 anos, ela engravidou novamente. A descoberta foi durante a troca de um método contraceptivo. A notícia de uma nova gravidez inesperada foi um susto, mas que durou pouco tempo e virou motivo de alegria. Aos quatro meses de gestação, ela descobriu que estava grávida de uma filha e poderia realizar o sonho de ter um casal. Em 13 de janeiro de 2003, o quê antes era apenas um sonho se tornou realidade. Maria Júlia nasceu para aumentar a família. Initial plugin text Depois da segunda gravidez, Aline decidiu focar em si, investir tempo para expandir os conhecimentos e conseguir um diploma de ensino superior. Em 2017, ela concluiu o curso de administração na Universidade Federal de Pernambuco. Ao g1, Aline disse que desde o começo do curso já dizia aos colegas e amigos que queria um terceiro filho. "Eu sonho em ter outro filho. Eu só não vou engravidar agora porque quero aproveitar tudo, quero festa e formatura. Mas eu dizia aos meus amigos, depois que eu fizer festa eu quero. E o nome eu já tinha, se eu engravidar de novo e for uma menina, vai ser Maria Eduarda". A esperança em meio a três gravidez interrompidas Aline Tavares e Maria Eduarda Foto: Arquivo Pessoal Com 35 anos, em 2017, ela descobriu que estava grávida novamente. A notícia veio com muita alegria, porém, apesar da vontade de dar o dom da vida pela terceira vez, Aline passou por momentos de provação. Com um mês de gravidez, por meio de uma ultrassom, ela descobriu que tinha perdido o bebê. "Eu nunca senti uma dor daquela, eu nunca imaginei que depois de um (teste de gravidez positivo), eu iria sentir uma dor daquela. No Dia dos Pais de 2017 eu senti umas dores absurdas, tive que ir pro bloco (do hospital) fazer curetagem. E ali eu começava meu luto", disse Aline. Em janeiro de 2018, ela engravidou de novo, mas perdeu o bebê na primeira semana após um sangramento. Com medo, e em luto pelas duas perdas, Aline decidiu investigar o que estava causando os abortos. De médico em médico, ela fez uma bateria de exames e descobriu que tinha trombofilia. A doença causa uma predisposição em desenvolver trombose em pessoas que possuem anomalias nos fatores de coagulação do sangue, aumentando o risco de formação de coágulos sanguíneos e era a responsável pelos abortos, pois impedia o sangue de ir para a placenta. Depois de descobrir essa condição na saúde, a representante comercial engravidou uma terceira vez, onde também perdeu o bebê. "Coloquei na cabeça que eu não iria mais engravidar. Cada perda de um bebê era como enterrar um filho. Eu fui pro fundo do poço mesmo, já nem contava mais as pessoas. As pessoas não entendem o quê é viver o luto, acham que o luto é perder um filho que nasceu." Após o diagnostico da doença, ela iniciou o tratamento com um medicamento injetável para a prevenção de coágulos sanguíneos. A probabilidade de ter mais um bebê estava cada vez mais baixa e os riscos mais altos. A mãe havia dado entrada no hospital para fazer duas cirurgias, uma no ovário e outra no útero, impedindo de engravidar novamente. Antes de fazer as cirurgias, Aline resolveu fazer um exame beta HCG, por desencargo da consciência e veio a surpresa: ela estava grávida de novo. "Ali eu me ajoelhei, comecei a agradecer a Deus, eu já sentia no meu coração que seria diferente. Era meia noite, uma hora da manhã e eu fui numa farmácia 24h e não tinha a Clexane (injeção). Só tinha uma em casa. Eu apliquei na barriga e fui atrás de mais no outro dia", conta. A pequena Maria Eduarda estava no ventre, esperando o momento certo para vir ao mundo trazer ainda mais alegria para a família. A notícia alegre veio com outras preocupações, isso porque Aline precisava continuar tomando as injeções e a pequena Duda foi um bebê que chegou durante a pandemia da COVID-19. Além disso, na gestação, Aline descobriu que tinha diabetes gestacional. O que seria um choque, acabou dando mais força para que a mãe tomasse os cuidados necessários. Uberdan e Maria Júlia beijando Aline, grávida de Maria Eduarda. Foto: Arquivo pessoal Em maio de 2021, infelizmente, Aline teve covid, e os cuidados precisaram ser redobrados para que não afetasse o bebê. Foi em 22 de julho, durante uma comemoração de aniversário entre os membros da família, que Maria Eduarda nasceu, com exatas 37 semanas. "Maria Eduarda é o nosso milagre, nossa promessa de Deus", diz a mãe. Aline Tavares e os três filhos. Foto: Arquivo pessoal "Ser mãe me fez ser uma pessoa melhor. Eu aprendo muito mais com meus filhos do que ensino a eles. Ser mãe na maturidade me fez renascer. Eu me sinto muito orgulhosa de lembrar de toda a trajetória, uma mulher abençoada", disse Aline.

Celimar de Meneses

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