Do Agreste para o mundo: empreendedores lucram com peças de artesanato no interior de PE


Segundo o Programa do Artesanato Brasileiro de Pernambuco (PAB-PE), atualmente, mais de 11 mil artesãos já estão cadastrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB). No dicionário, a palavra "artesanato" traduz o que na prática, artesãos de Caruaru, Bezerros e Cachoeirinha, Agreste de Pernambuco, produzem no dia a dia. São esses tipos de arte e técnica do trabalho manual não industrializado, realizados por pequenos empreendedores, que no interior geram renda e emprego, fomentando a economia da região. As peças em barro, couro e papel produzidas no Agreste, são vendidas em várias regiões do país, e ultrapassam fronteiras, chegando a serem comercializadas em outros países. Cada cidade possui sua particularidade no que diz respeito à matéria-prima, mas, todas elas têm algo em comum, o empreendedorismo por meio do artesanato. Nesta reportagem especial sobre o artesanato produzido no Agreste de PE você vai conferir: 🌃 Potencial econômico dos empreendedores no ramo do artesanato; 👨🏽‍💼👩🏽‍💼 Empreendedorismo como fonte de renda para pequenos negócios; 👨🏽‍💻Tecnologia e inovação, aliada ao setor do artesanato em couro, barro e papel; 💲 Linha de crédito ao pequeno empreendedor. Caruaru é celeiro de artistas que produzem peças em barro. Thiago Henrique Empreendedores lucram com peças de artesanato no interior de PE É no Alto do Moura, em Caruaru, Agreste de Pernambuco, local que é considerado o maior Centro de Artes Figurativas da Américas, que a Artesã Nicinha Otília, produz peças em barro desde os sete anos. (Veja vídeo acima) Assim como todo artesão da Terra do Mestre Vitalino, Nicinha conta que o barro onde ela mora é visto como "Ouro Preto", capaz de gerar renda e emprego para pequenos empreendedores, que produzem peças dentro das próprias residências. "A minha história com o barro começou desde quando eu era criança. A minha família era muito pobre e meu pai era de Altinho. Ele veio pra cá, eu já fazia panela de barro. A arte foi passada de geração em geração na nossa família. No Alto do Moura, tudo começa assim", disse a Artesã. Nicinha Otília leva o legado do Mestre Vitalino. Edivaldo Coelho A artesã conta que a arte do barro preenche a vida, e no Alto do Moura, se transforma em fonte de renda para os pequenos empreendedores, que de geração em geração, mantém vivo o legado do Mestre Vitalino. Por mês, com o auxílio de uma equipe, ela consegue produzir 200 peças em série e em torno de seis peças autorais, encomendadas por clientes de todo o Brasil. "Eu tenho muito orgulho. Eu acho que preenche a alma, mas preenche todo este setor empresarial. Se torna também um empreendedorismo, porque a gente sempre está envolvido com outras pessoas trabalhando, trabalhamos juntos", conta. O Alto do Moura é um bairro residencial, ou seja, os artesãos expõem seus produtos dentro das próprias casas, que também são seus ateliês, a regionalidade é uma das marcas fortes dessa arte, com temas cotidianos do povo sertanejo e folclóricos da região do Agreste Pernambucano. Segundo a Prefeitura de Caruaru, o empreendedorismo por meio do artesanato, vinculado ao turismo, é a principal fonte de subsistência das famílias deste bairro da cidade. O último levantamento divulgado mostra que a renda familiar mensal total do Alto do Moura gira em torno de R$ 6,1 milhões. Empreendedorismo por meio do artesanato é a principal fonte de renda dos moradores. Thiago Henrique Janaina Barbosa, é uma das empreendedoras que produz peças do cotidiano do povo nordestino, são bonecos de barro que retratam festas, o trabalho do homem do campo, e demais momento do dia a dia. O empreendedorismo por meio do artesanato, está na veia, e tem feito com que as peças produzidas em Caruaru, cheguem de Norte a Sul do país. Initial plugin text "O barro pra mim é tudo, foi por meio do barro que eu ganhei o mundo. Por semana, chego a produzir 30 a 50 trios (bonecos de barro que mostram artistas tocando instrumentos). Se for bonecas, de 50 a 100. É um trabalho manual, cheio de muitos detalhes", disse a artesã. Bezerros é celeiro de artistas que produzem artesanato em papel couchê. Thiago Henrique Empreendedores lucram com peças de artesanato no interior de PE Bezerros , no Agreste de Pernambuco, fica a 107 km do Recife, o município tem a terceira maior festa de Carnaval do estado. A população da cidade chegou a 61.686 pessoas no Censo de 2022, o que representa um aumento de 5,14% em comparação com o Censo de 2010. Por lá, empreendedores, produzem artesanato com papel couchê, isopor, entre outros produtos. As peças mais conhecidas, são as tradicionais máscaras de papangu. (Veja vídeo acima) Mas, o Carnaval não dura o ano todo. Daí fica aquela dúvida: o que produzir nos demais períodos do ano? É aí, que entra o espírito empreendedor de Flávio Vieira, artesão, que produz peças de artesanato desde os 12 anos. Ao g1 Caruaru e região, Flávio disse que a história dele com o mundo da arte, começou com a dança e o teatro, depois veio a produção das máscaras, mas, assim como todo empreendedor, quando chegou a pandemia da COVID-19, ele precisou se reinventar. Artesão cria peça decorativa para período junino no Nordeste. Edivaldo coelho Foi nesse momento que Flávio desenvolveu uma peça, a "sanfona", e em seguida as" fogueiras", objetos decorativos para o período junino. O produto viralizou nas redes sociais e fez sucesso em todo o país. Foi na dificuldade, que a chave virou na vida do artesão, que antes, produzia apenas máscaras de papangu, e agora, leva a arte produzida no interior do estado, para todo Brasil, em várias épocas do ano com a confecção de outros produtos sazonais. "Por acaso, eu criei uma pequena peça (sanfona) e essa peça estourou e a gente hoje vende para o Brasil inteiro. Aí a gente tem dois cantos fixos que a gente fornece, que é Caruaru, o primeiro lugar, segundo Recife. Aí ela vai para todo o Brasil, porque a gente tem esse fornecedor, que fornece para outras regiões do Brasil, pra todos os lugares em que existem festa de São João", disse. Para dar contar das encomendas, ele possui uma equipe que trabalha nos turnos manhã, tarde e noite. A produção dura em média dois meses e o material utilizado é o papel couchê, isopor e MDF. As peças serão usadas no São João 2024, que em Pernambuco, já começou em algumas cidades, a exemplo de Caruaru. O artesão tem produzido aproximadamente 30 mil miniaturas de sanfonas e fogueiras, além de outras cinco mil peças em tamanhos maiores. Centro de Artesanato fica localizado no interior no Agreste de Pernambuco. Edivaldo Coelho Para vender esses produtos, na cidade, os artesãos podem contar com o Centro de Artesanato, mantido pelo governo estadual, local onde é possível expor as peças e vender em uma loja colaborativa. O espaço faz parte das ações do PAPE, Programa do Artesanato de Pernambuco, criado em março de 2008 pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). O espaço disponibilizado no município, é o único na região do Agreste, o primeiro fica localizado no Recife. Existe também uma Unidade Móvel do Artesanato, que circula pelo estado durante a realização de eventos. Além disso, o Programa também apoia a participação de artesãos em feiras de artesanato locais, nacionais e internacionais. Segundo o PAPE, atualmente, mais de 11 mil artesãos já estão cadastrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB). O número real, é muito maior, tendo em vista, que muitos dos artesãos ainda trabalham na "informalidade", sem registro no cadastro dos artesãos ou demais órgãos. Cachoeirinha é celeiro de artistas que produzem artesanato em couro e aço. Thiago Henrique Empreendedores lucram com peças de artesanato no interior de PE Conhecida em Pernambuco pela produção de peças em couro e aço, a cidade de Cachoeirinha, no Agreste, lidera o ranking dos municípios pernambucanos que fabricam produtos de artesanato com esse tipo de matéria-prima. (Veja vídeo acima) A população da cidade de Cachoeirinha chegou a 19.899 pessoas no Censo de 2022, o que representa um aumento de 5,74% em comparação com o Censo de 2010. Segundo dados da prefeitura, desse total de habitantes, aproximadamente 80% das pessoas trabalham com couro e aço. Josemir Alves é um desses empreendedores que fabricam peças em couro, nesse caso, celas para cavalos. A produção é feita entre familiares e amigos, e teve início, quando ele tinha 12 anos, em uma garagem, que pelos artesãos é chamada de "tenda" - local de trabalho - na cidade. O artesão teve como inspiração, o pai dele, que foi um dos pioneiros no município. Atualmente, o negócio oferece oportunidade para dez trabalhadores. "Meu pai começou. Acho que só tinha três, quatro, cinco pessoas, mais ou menos. Ele começou e aí depois eu herdei , comecei a ir trabalhar com a minha tia a partir dos 12, 13 anos, e aí fui trabalhando, e até hoje a gente começa e faz as peças. No total, produzimos 20 por semana, 120 celas por mês, em média", disse. Artesão confecciona peças em couro no Agreste de PE. Edivaldo Coelho As peças são vendidas na feira local todas as semanas, às quintas-feiras, mas, são enviadas também para outros estados do Brasil, entre eles, Sergipe, Ceará, Bahia, Mato Grosso. Os produtos também já foram enviados para Portugal e os Estados Unidos. O município também é muito forte na produção de peças de artesanato em aço. Entre as peças mais fabricadas e vendidas, estão a espora, o estribo e outros apetrechos úteis aos cavaleiros durante as vaquejadas. Produção em aço fortalece a economia da cidade de Cachoeirinha, no Agreste de PE. Edivaldo Coelho Julio Sebastião Sobral é um dos empreendedores que trabalha na fabricação de peças em aço. A tenda que ele é proprietário gera oportunidade para outros quatro trabalhadores. Já são mais de 20 anos na confecção de freios para boi, acessório usado na boca dos animais durante competições. "Produzimos 130 peças por semana. São cinco pessoas trabalhando na minha tenda. Aqui em Cachoeirinha, mais de 60% da cidade trabalha com aço e couro. Comigo, só homens, mas há também outras tendas em que as mulheres trabalham muito, principalmente com couro", disse. De onde vem o apoio ao pequeno empreendedor? Armazém da Criatividade em Caruaru é um braço do Porto Digital e oferece qualificação aos empreendedores da região. Edivaldo Coelho / TV Asa Branca Em Caruaru, as artesãs podem contam com o projeto "Mulheres no Alto", do Armazém da Criatividade, que no município, funciona como um braço do Porto Digital, localizado no Recife. Por ano, um grupo de aproximadamente 30 mulheres participa do Projeto Minas, que tem como objetivo oferecer capacitação para as artesãs do Alto do Moura, que trabalham com o empreendedorismo por meio do artesanato. É uma forma de aproximar cada vez mais o protagonismo feminino do empreendedorismo criativo e cultural. "Então a gente tenta compreender e pegar um período anterior as festas, as festividades juninas, por exemplo, que a gente sabe que é um grande boom em Caruaru. A gente faz com que essas mulheres entendam o que é a economia criativa, que na verdade é isso que elas fazem, mas dá nome a todo mundo e faz com que elas também caminhem mais", disse Gabriela Barros, analista do Armazém da Criatividade. Na região do Agreste de Pernambuco, os empreendedores que trabalham com a produção de peças de artesanato, também podem contar com o apoio do Sebrae Pernambuco, que oferece todo suporte necessário, desde a formalização do negócio. Segundo o Analista Laudemiro Júnior, da unidade Caruaru, o empreendedorismo por meio do artesanato, é muito forte na região Agreste, por aqui, as matérias-primas mais usadas são o papel, a madeira, o barro, o couro e o aço. "Essa tradição é passada de mestre para artesão e essa transferência traz a tradicionalidade, e ao mesmo tempo, fomenta a inovação de ruptura de modelos como de comercial, de modelo de produção", disse o analista. Os números do Sebrae no estado reafirmam, que o empreendedorismo no interior do estado, é algo pujante e cresce com o passar dos anos, em todos os setores, o que traz resultados positivos para a economia da região, e gera novos empregos por meio dos pequenos empreendedores. Empreendedorismo no Agreste de Pernambuco movimenta a economia em vários setores. Thiago Henrique Para garantir que o negócio possa sair do papel, no Estado, o empreendedor pode contar com várias linhas de crédito, ofertadas pela Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE). Uma dessas linhas de crédito é o “Bora Empreender”, que tem o objetivo de fortalecer o negócio, através da qualificação e formalização, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Profissional e Empreendedorismo (Sedepe) e a Junta Comercial do Estado de Pernambuco (Jucepe), finalizando o processo com o acesso ao microcrédito, através da AGE. Por meio do Bora Empreender, o empreendedor pode conseguir crédito de até R$ 5 mil reais. O crédito pode ser contratado por empreendedores residentes e empreendendo no território de PE que tenham concluído a qualificação oferecida pela Sedepe e estejam formalizados através do MEI. O programa também possui uma versão voltada para mulheres "Bora Empreender Mulher", que enfatiza a importância de um caminho estruturado e educativo para o sucesso empresarial. A empreendedora terá acesso à linha de crédito para capital de giro e investimento fixo. O Bora Empreender Mulher é composto por três etapas que precisam ser executadas: qualificação, formalização e crédito. Assim, para ter acesso à última etapa, é necessário realizar as duas primeiras. Ambos programas podem ser solicitados pelo site. O programação oferece crédito de até: R$ 8.000,00 (oito mil reais) para empresas; R$ 4.000,00 (quatro mil reais) para empreendedoras informais, ambos em função da análise cadastral e de crédito da beneficiária.

Celimar de Meneses

Deixe um comentário