Zé de Cazuza receberá título de Doutor Honoris Causa da UFPB

Neste texto, a advogada e poetisa Rosa Freitas* traça a trajetória do poeta Zé de Cazuza, que na próxima terça-feira (27/08) receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa.

Zé de Cazuza Doutor!

José Nunes Filho nasceu em 12 de dezembro de 1929, numa fazenda de Monteiro (PB), atualmente município de Prata. Morou desde sempre na Fazenda São Francisco. Filho único do grande Cazuza Nunes, também poeta e célebre modista da canção “Mulher nova, bonita e carinhosa/Faz um homem gemer sem sentir dor”, Zé é um gênio. Nasci e fui criada com os seus e nossas famílias têm casamentos em comum, o que sempre me permite achar que também sou parente dele. Casado com Duca Moura, que não faz rima, mas tem o raciocínio rápido e divertido de um repentista, tiveram sete filhos biológicos artistas, e outros não biológicos também artistas que são filhos de sua generosidade, genialidade e arte.

Hospitaleiro

A sua casa grande e hospitaleira esteve cheia de gente, desde grandes políticos como o também poeta Ronaldo Cunha Lima e o desembargador e primo dele, Manoel Raphael, seja poetas locais como Pinto do Monteiro, Manoel Xudu, Canção e outros. Também tive o privilégio de conhecer o poeta cuja realeza faria inveja a um lorde inglês, Manoel Filó. Depois da morte do incrível e divertido Antônio de Catarina, dos cantadores Valdir Teles, Sebastião Dias e João Paraibano, os Sertões do Pajeú e Cariri Paraibano ficaram pobres.

No alpendre

Resta o poeta Enoque Ferreira Leite, que explica metaforicamente o sentido da existência com sua “porteira velha se abrindo/Faz meia lua no chão”. São os dois baluartes e memórias vivas com suas vozes fortes e dicção impecáveis. Zé é incrível. Toma sua cerveja e visita as feiras da região religiosamente para conversar com as pessoas e dizer um verso ou outro. Sua obra foi fazer com que nós conhecêssemos a grandeza da poesia através de suas declamações de grandes mestres, parte deles no livro “Poetas (en) cantadores”. Mas não se enganem que esteja tudo no livro. Num fim de tarde, no alpendre de sua casa, ele ainda passa horas declamando e contado histórias de poetas e façanhas inéditas.

Único

Zé é único. Nunca envelheceu, apesar dos 94 anos desafiando o tempo com uma mente sóbria, jovem, divertida, agitada, sem preconceitos, cheia de versos e muita alegria. É marcante sua presença. É fascinante a honra de conviver com ele e receber uma ligação de vídeo ou um áudio duas ou três vezes por mês. Ele, juntamente com seu primo e meu tio por afinidade Carlito Nunes, e meu amigo e poeta Pedro Filó, me ensinaram o que era um soneto, uma sextilha, uma quadra, uma décima em sete ou em dez sílabas poéticas, um mourão perguntado, um galope à beira mar e um pouco de poesia. Essa poesia me alimenta todos os dias.

Sabedoria

A Universidade Federal da Paraíba terá a honra de conceder a Zé o título de doutor honoris causa no dia 27 de agosto de 2024, em João Pessoa. Sou acadêmica por formação, mas reconheço que somos muito pequenos na vastidão da sabedoria do mundo. E minúsculos perto de um homem que teve somente um ano de alfabetização e tem a poesia e a cultura de seis gerações em sua mente. Zé se comunica espetacularmente bem com o português impecável, regência e concordância verbais segundo os padrões mais exigentes da língua portuguesa e com a vibração do ‘R’ que faz sua fala marcante.

Desafio

Graças a Deus me chamo Rosa Maria e fico feliz quando ouço ele vibrar meu nome na sua voz melodiosa e firme. Sou apaixonada, fã e orgulhosa de ser amiga de Zé. Para saber um pouco dele deixo as estrofes abaixo para alegria de todos. É um desafio com o poeta Manoel Filó: “Depois da morte do dia”, uma brincadeira de gênios.

Zé de Cazuza

Nesta hora o peregrino
Muda a marcha do andar
Baixa um profundo pesar
Na alma do assassino
Na igreja um velho sino
Saúda a Virgem Maria
Uma mãe na moradia
Beija uma filha que preza
Num casebre um velho reza
Depois da morte do dia.

Manoel Filó

Numa cerca de aveloz
Depois do sol amparado
O vaga-lume assustado
Fica testando os faróis
Os pescadores de anzóis
Embocam na água fria
Ficam naquela agonia
Se uma piaba belisca
Termina roubando a isca
Depois da morte do dia.

*Rosa Freitas é advogada, doutora em Direito, sertaneja e poetisa.Neste texto, a advogada e poetisa Rosa Freitas* traça a trajetória do poeta Zé de Cazuza, que na próxima terça-feira (27/08) receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa.

Zé de Cazuza Doutor!

José Nunes Filho nasceu em 12 de dezembro de 1929, numa fazenda de Monteiro (PB), atualmente município de Prata. Morou desde sempre na Fazenda São Francisco. Filho único do grande Cazuza Nunes, também poeta e célebre modista da canção “Mulher nova, bonita e carinhosa/Faz um homem gemer sem sentir dor”, Zé é um gênio. Nasci e fui criada com os seus e nossas famílias têm casamentos em comum, o que sempre me permite achar que também sou parente dele. Casado com Duca Moura, que não faz rima, mas tem o raciocínio rápido e divertido de um repentista, tiveram sete filhos biológicos artistas, e outros não biológicos também artistas que são filhos de sua generosidade, genialidade e arte.

Hospitaleiro

A sua casa grande e hospitaleira esteve cheia de gente, desde grandes políticos como o também poeta Ronaldo Cunha Lima e o desembargador e primo dele, Manoel Raphael, seja poetas locais como Pinto do Monteiro, Manoel Xudu, Canção e outros. Também tive o privilégio de conhecer o poeta cuja realeza faria inveja a um lorde inglês, Manoel Filó. Depois da morte do incrível e divertido Antônio de Catarina, dos cantadores Valdir Teles, Sebastião Dias e João Paraibano, os Sertões do Pajeú e Cariri Paraibano ficaram pobres.

No alpendre

Resta o poeta Enoque Ferreira Leite, que explica metaforicamente o sentido da existência com sua “porteira velha se abrindo/Faz meia lua no chão”. São os dois baluartes e memórias vivas com suas vozes fortes e dicção impecáveis. Zé é incrível. Toma sua cerveja e visita as feiras da região religiosamente para conversar com as pessoas e dizer um verso ou outro. Sua obra foi fazer com que nós conhecêssemos a grandeza da poesia através de suas declamações de grandes mestres, parte deles no livro “Poetas (en) cantadores”. Mas não se enganem que esteja tudo no livro. Num fim de tarde, no alpendre de sua casa, ele ainda passa horas declamando e contado histórias de poetas e façanhas inéditas.

Único

Zé é único. Nunca envelheceu, apesar dos 94 anos desafiando o tempo com uma mente sóbria, jovem, divertida, agitada, sem preconceitos, cheia de versos e muita alegria. É marcante sua presença. É fascinante a honra de conviver com ele e receber uma ligação de vídeo ou um áudio duas ou três vezes por mês. Ele, juntamente com seu primo e meu tio por afinidade Carlito Nunes, e meu amigo e poeta Pedro Filó, me ensinaram o que era um soneto, uma sextilha, uma quadra, uma décima em sete ou em dez sílabas poéticas, um mourão perguntado, um galope à beira mar e um pouco de poesia. Essa poesia me alimenta todos os dias.

Sabedoria

A Universidade Federal da Paraíba terá a honra de conceder a Zé o título de doutor honoris causa no dia 27 de agosto de 2024, em João Pessoa. Sou acadêmica por formação, mas reconheço que somos muito pequenos na vastidão da sabedoria do mundo. E minúsculos perto de um homem que teve somente um ano de alfabetização e tem a poesia e a cultura de seis gerações em sua mente. Zé se comunica espetacularmente bem com o português impecável, regência e concordância verbais segundo os padrões mais exigentes da língua portuguesa e com a vibração do ‘R’ que faz sua fala marcante.

Desafio

Graças a Deus me chamo Rosa Maria e fico feliz quando ouço ele vibrar meu nome na sua voz melodiosa e firme. Sou apaixonada, fã e orgulhosa de ser amiga de Zé. Para saber um pouco dele deixo as estrofes abaixo para alegria de todos. É um desafio com o poeta Manoel Filó: “Depois da morte do dia”, uma brincadeira de gênios.

Zé de Cazuza

Nesta hora o peregrino
Muda a marcha do andar
Baixa um profundo pesar
Na alma do assassino
Na igreja um velho sino
Saúda a Virgem Maria
Uma mãe na moradia
Beija uma filha que preza
Num casebre um velho reza
Depois da morte do dia.

Manoel Filó

Numa cerca de aveloz
Depois do sol amparado
O vaga-lume assustado
Fica testando os faróis
Os pescadores de anzóis
Embocam na água fria
Ficam naquela agonia
Se uma piaba belisca
Termina roubando a isca
Depois da morte do dia.

*Rosa Freitas é advogada, doutora em Direito, sertaneja e poetisa.

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Francisco Dutra

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