Trânsito e mobilidade: tem que ser pra valer
Há um conceito equivocado, pobre e absurdo de que organizar o trânsito não dá certo porque punir os maus motoristas gera rejeição. É um grande engano, além de uma desculpa pra quem não quer fazer.
No Sertão do Estado, o processo de municipalização do trânsito tem avanços, retrocessos e bons exemplos. O modelo continua sendo Arcoverde. A Arcotrans é disparadamente a Autarquia de Trânsito com melhor atuação dentre as médias cidades.
A instituição começou a funcionar em junho de 2011. Com praticamente 14 anos de atuação, já está incorporada à cultura de quem vive na cidade ou vem de fora, dada sua característica de polo regional. Àquele ano, o prefeito era Zeca Cavalcanti, vivendo seu segundo governo. A organização do trânsito não desorganizou a vida política de Zeca, eleito Deputado Federal, perdendo e ganhando eleições como ano passado sem nunca sofrer represálias por organizar o trânsito da cidade. Hoje, corre riscos quem ameaçar a estabilidade da Autarquia.
Tabira não tinha o trânsito municipalizado, mas contou no governo Sebastião Dias com importante apoio da Guarda Municipal para ajudar no trânsito. Funcionou, quando Flávio Marques era seu Secretário. “Desfuncionou” com o desmonte da sua sucessora, Nicinha Melo, que, propositadamente, parou de apoiar e investir na guarda, já que era um símbolo de Flávio. Agora, dado o atual desmantelo, a população está invocando a volta da guarnição no apoio e organização das vias.
Serra Talhada também criou sua Superintendência de Trânsito, a STTRANS, em 2013. Sob o comando de Célio Antunes na maior parte de sua história, enfrenta desafios por vários fatores. Além de não ter começado com a plenitude esperada, dadas as notícias da época, hoje, o ambiente político é um dos problemas, com a oposição explorando o rótulo de “indústria de multas”, falta de compreensão do seu papel, críticas de setores da imprensa e necessidade de alguns ajustes. A Autarquia foi criada em 2013, com praticamente 12 anos. Já o trânsito municipalizado pra valer em abril de 2015. Isso também não gerou prejuízos eleitorais para Luciano Duque, o gestor que a iniciou. Tanto ele quanto Márcia Conrado foram ou são eventualmente cobrados pela falta de uma gestão mais eficiente da pasta.
No caso de Afogados da Ingazeira, a cidade arrasta o debate há cerca de 10 a 15 anos. A necessidade de efetivação da política cresceu com o tempo e ficou mais evidente nos dois governos Patriota e na atual gestão Sandrinho. A pressão social, com a constatação de que Afogados da Ingazeira é a “Índia do Pajeú” em se tratando de trânsito dada sua extrema desorganização, aumenta a cada dia.
A cidade intensificou algumas ações em preparação para o início do processo. Teve encontros com a PM, que será uma das parceiras, acompanhou exemplos como o da , intensificou obras do receptivo de lotações, seus representantes visitaram CTTU e Serpro e recentemente, os agentes de trânsito iniciaram as aulas práticas.
Preocupam o número de agentes, as excessivas reuniões com setores como o comércio que podem gerar mais concessões que o cumprimento da lei, como nas vagas solicitadas para carga e descarga, manutenção da feira livre da Senador Paulo Guerra travando a área central da cidade, zona azul descartada e lentidão no processo de sinalização horizontal e vertical da cidade, além da ausência de um programa de mobilidade para pedestres, com calçadas irregulares, jogando as pessoas para o meio da rua.
Esses desafios preocupam, pois há necessidade de que o processo comece pleno, organizado, sem penduricalhos ou improvisos. Aí sim, se a população perceber desorganização ou um processo sem a plenitude exigida, a repercussão pode ser exatamente a inversa. A favor a vocação da cidade, com grande possibilidade de ser modelo em trânsito e mobilidade.
No mais, cidades médias do Estado precisam seguir os bons exemplos. No fim de 2024, Pernambuco tinha uma média de 3,4 mortes por dia. Além dos óbitos, o número total de vítimas no trânsito subiu, em número médio de 45 mil feridos, enchendo as emergências e unidades hospitalares do Estado. Precisamos agir. Ter um olhar eleitoral pro tema é ignorância, falta de bom senso e prevaricação.